gratidão e adoração a Deus.
A Bíblia
é o maior manual litúrgico em circulação. É nela que encontramos a principal
fundamentação para a prática do culto cristão. A falta de
conhecimento desta fundamentação, aliada ao descaso ou desinteresse quanto ao
desenvolvimento histórico do culto, tem conduzido cristãos e igrejas a se
privarem de todas as bênçãos e privilégios deste tão solene ato, como, também,
ao desvio da simplicidade, verdade e espiritualidade, que sempre marcaram esta
prática cristã. Em muitos lugares, a formalidade, a desordem e a irreverência,
têm transformado o culto num mero encontro de pessoas, quando deveria, antes,
ser um encontro de pessoas com Deus.
O
CONCEITO DE CULTO CRISTÃO
Conceituar
"culto cristão" será o primeiro passo em direção ao presente estudo.
Vários pesquisadores, estudiosos e teólogos já propuseram as suas definições.
Observemos algumas delas: “[...] é o encontro da comunidade com Deus” (KIRT,
1993, p. 12 apud FREDERICO, 2005, p. 20)
A
definição acima implica que Deus é quem convida o seu povo a se reunir em dia,
horário e local determinado. Dessa forma, Frederico (idem) declara que “se é
Ele quem convida, temos certeza de que Ele não faltará a este encontro: ‘onde
dois ou três estiverem reunidos em meu nome, ali estarei (Mt 18.20)’”.
Por
conseguinte, ainda segundo a autora, o culto não é:
- Uma
reunião qualquer, como a de uma associação de moradores de um bairro, em que as
pessoas interessadas discutem os problemas comuns ou planejam diversas
atividades para o bem do grupo ou da organização;
-
Um show, como se vê na televisão, com atrações variadas, apresentações pessoais
e coletivas, com um apresentador famoso tentando ganhar pontos no Ibope através
de seu desempenho, diante de seus espectadores passivos e satisfeitos com a
programação;
-
Um momento para se prestar homenagens a personalidades, nem para comemorar e
celebrar qualquer data comemorativa do calendário secular;
-
Uma obrigação semanal, onde a ausência no mesmo pudesse implicar em algum tipo
de punição ou cobrança;
-
Uma reunião secreta, repleta de mistérios, envolta em ritos não-compreensíveis,
embora possa haver cerimônias que não sejam entendidas por aqueles que não frequentam
com regularidade a comunidade cristã local.
Outras
definições de culto podem ser encontradas em White (2005, p. 14-24). Em sua
intenção de examinar as várias maneiras como os pensadores cristãos falam sobre
culto, em seu estudo comparativo, entendeu que a melhor maneira de se entender
o significado de um termo é observando-o em seu uso cotidiano. Dessa forma,
foram observados os posicionamentos de pensadores protestantes, ortodoxos e
católicos. Para White, as variações do uso do termo não se excluem, antes, ao
se sobreporem, cada uso acaba acrescentando novas percepções e dimensões, se
complementando.
Escrevendo
a partir da tradição metodista, o professor Paul W. Hoon contribuiu de maneira
bastante significativa através de seu livro The Integrity of Worship,
publicado em 1971, afirmando que o culto cristão se relaciona diretamente com
os eventos da história da salvação. Cada evento nesse culto está ligado ao
tempo e a história enquanto cria pontes para eles e os traz para o nosso atual
contexto. O culto seria um lugar onde Deus age para dar sua vida ao ser humano
e para conduzir o ser humano a participar dessa vida. Haveria certa interação
entre Deus e o homem, onde o primeiro comunicaria seu próprio ser ao ser
humano, tendo por parte do segundo uma atitude responsiva. Entre o homem e Deus
estaria Jesus Cristo, a auto-revelação do Pai e aquele por quem o Pai recebe
nossas emoções, palavras e ações.
Peter
Brunner (apud WHITE, p.15-17), teólogo luterano, em sua obra Worship in
the Name of Jesus, usa o termo alemão Gottesdient, que tem
conotação com o serviço de Deus aos seres humanos, e com o serviço dos seres
humanos a Deus. Brunner cita Lutero, que acerca do culto disse: “que nele
nenhuma outra coisa aconteça exceto que nosso amado Senhor ele próprio fale a
nós por meio de sua santa palavra e que nós, por outro lado, falemos com ele
por meio de oração e canto de louvor”. Para Brunner há uma dualidade no culto
encoberta por um foco único, que é a ação divina em se nos doar quanto em
instigar nossa resposta às suas dádivas graciosas.
Evelyn
Underhill, anglo-católica, em seu clássico estudo Worship em 1936, afirmou que
“o culto, em todos os seus graus e tipos, é a resposta da criatura ao Eterno.”
Outras características do culto cristão seriam o seu condicionamento pela
crença cristã, pela crença sobre a natureza e a ação de Deus resumidas no dogma
da trindade e da encarnação e em seu caráter social e orgânico, o que faz do
culto um empreendimento coletivo, e nunca solitário.
O
professor ortodoxo Georg Florvsky, enfatizou que “O culto cristão é a resposta
dos seres humanos ao chamado divino, aos prodígios de Deus, culminando no ato
redentor de Cristo”. Para ele, como cristão precisamos da comunidade, visto que
a existência cristã é essencialmente comunitária. O culto seria uma das
manifestações da vida cristã comunitária, onde em resposta à obra de Deus
passada e presente, manifestações de louvor e adoração sinalizam um grato
reconhecimento pelo grande amor e pela bondade redentora de Deus.
As idéias
de Florvsky foram reforçadas por um outro teólogo ortodoxo, Nikos A. Nissiotis,
através da declaração de que “O culto não é primordialmente iniciativa do ser
humano, mas ato redentor de Deus em Cristo por meio do seu Espírito”.
O “culto
cristão”, sob uma perspectiva pentecostal, poderia ser definido como: O
ajuntamento solene da Igreja, com fins de adorar a Deus mediante a liturgia,
associada aos elementos comuns de cada cultura popular ou denominacional,
aberto a livre manifestação da ação e dos dons do Espírito com decência e ordem
(1 Co 14.26, 40).
OS
TERMOS UTILIZADOS PARA DEFINIR “CULTO”
Na
Bíblia encontramos alguns termos usados para definir “culto”. São eles:
- ‘abida –
Termo hebraico que originalmente significava trabalho, ritual, adoração. Os
usos dessa palavra em Esdras se referem ao trabalho feito na reconstrução do
templo em Jerusalém (Ed 4.24; 5.8; 6.7),bem como as atividades em geral de
sacerdotes e levitas, as quais, em associação com o ritual e a adoração
espiritual (Ed 6.18), constituem serviço a Deus (Ex 3.12; Dt 6.13; 11.13; Sl
100.2).
- Latreia –
Substantivo grego, usado nas diversas situações de um trabalho ou serviço
assalariado. Posteriormente foi incorporado à prática cristã de cultuar, ou
seja, prestar um serviço a Deus, adorá-lo (Mt 4.10; Rm 12.1).
- Proskunein –
Termo grego que no AT significava “curvar-se”, tanto para homenagear homens
importantes e autoridades (Gn 27.29; 37.7-10; I Sm 25.23), como para adorar a
Deus (Gn 24.52; 2 Cr 7.3; Sl 95.6). No NT denota exclusivamente a adoração que
se dirige a Deus (At 10.15-26; Ap 19.10; 22.8-9).
- Leitourgia –
A palavra é originária do grego. Literalmente, significa serviço público (leitos=público, Ergon=trabalho).
Conforme Andrade (Manual da Harpa Cristã, p. 19)
Na
Antiga Grécia, o termo era usado para designar uma função administrativa num
órgão governamental. Desde sua origem, por conseguinte, a liturgia tem uma
forte conotação com o serviço que os súditos devem prestar ao rei. O termo
passou, com o tempo, a designar o culto público e oficial da Igreja Cristã.
Hoje, é definido como a forma pela qual um ato de adoração é conduzido.
Esses
termos nos ajudam a perceber a natureza e o caráter do culto cristão.
FUNDAMENTAÇÃO
BÍBLICA DO CULTO NO ANTIGO TESTAMENTO
É
no Antigo Testamento que encontramos as primeiras referências ao culto:
- O Culto na Família (Gn
4.1-5; 26; 8.18-21; 13.1-4; Ex 12.1-21; Dt 6.4-9; 11.18-21). As primeiras
narrativas bíblicas que envolvem o culto se dão na família. Em Gênesis 4.3-5
lemos sobre o culto na dimensão pessoal, onde o que cultua, aquele que é
cultuado e o elemento oferta estão presentes. Este primeiro episódio nos ensina
um princípio que vai nortear todo o culto no Antigo Testamento, e que servirá
de base para o culto no Novo Testamento: A aceitação do culto depende
primeiramente daquilo que o Senhor percebe na vida (interior e exterior)
daqueles que prestam o culto (Is 1.10-17). Da vida pessoal, o culto no Antigo
Testamento avança para a vida familiar (Ex 12.1-21), comunitária e nacional. A
rigidez cerimonial é marcante a partir deste período.
- O Culto no Tabernáculo (Ex
25-40). Com a construção do tabernáculo, em pleno deserto, Deus começa a
preparar o povo para um culto no nível comunitário, com elementos e uma
liturgia marcada por muitos elementos simbólicos. Além dos cultuadores, do
cultuado e das ofertas, temos agora presente um espaço litúrgico definido, e os
ministros/sacerdotes com uma função mediadora. No Pentateuco vamos encontrar
também o estabelecimento de várias festas cerimoniais, que possuem um papel
comemorativo e pedagógico, visto que lembram eventos passados e que servem de
base para a exortação das novas gerações (Lv 23).
- O Culto no Templo (2Sm
7.1-17; I Rs 6-8). Já estabelecidos na terra prometida, é sobre o reinado de
Davi que a construção do templo é idealizada (1 Cr 22.6-19). Com o templo, um
sistema de organização é estabelecido para que em nada o culto seja
prejudicado. Neste sistema estão presentes os levitas (1 Cr 23), os sacerdotes
(1 Cr 24), os cantores (1 Cr 25), os porteiros (1 Cr 26) e os tesoureiros (1 Cr
26.20-28).
- O Culto na Sinagoga. Não
encontramos menção no Antigo Testamento sobre o culto na sinagoga. Conforme
Packer, Tenney e White Jr. (1988, p. 82): “O mais provável é que os judeus
exilados criaram a sinagoga quando se reuniam para orar, cantar, e discutir a
Tora enquanto viviam em terras estranhas. Depois que voltaram do Exílio,
fizeram da sinagoga uma instituição formal”.
Observamos
desta forma, que o sistema cúltico no Antigo Testamento se tornou ao longo dos
séculos bastante organizado, complexo e formal. Percebe-se ao longo da
narrativa bíblica, que quanto mais o povo se afastava de Deus, menos
significativo ficava o culto. Esse descaso do povo para com Deus, sua Palavra e
o culto culminou com a destruição do próprio templo (2 Rs 25.8-18).
FUNDAMENTAÇÃO
BÍBLICA DO CULTO NO NOVO TESTAMENTO
O culto
no Novo Testamento recebeu forte influência da sinagoga, assimilando muitos de
seus elementos, para posteriormente estabelecer uma característica própria. Não
encontramos no Novo Testamento nenhum manual litúrgico ou tratado sistemático
sobre o culto cristão. Apesar disso, Harpprecht (1998, p. 120-121) nos aponta
três relevantes passagens a seu respeito:
-
Mt 8.20: “Porque onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali
estou no meio deles”. Nesse texto se destacam a acessibilidade livre e
generosa do Senhor Jesus, que se permite ser encontrado pela comunidade cristã
onde e quando quiser, além da comunidade reunida em seu nome ser p sinal por
excelência da presença de Deus entre nós.
-
1 Co 11.24 e 25: “e, tendo dado graças, o partiu e disse: Isto é o meu
corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim. Por semelhante modo,
depois de haver ceado, tomou também o cálice, dizendo: Este cálice é a nova
aliança no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que o beberdes, em memória de
mim”. Reproduzindo as palavras de instituição da Ceia, Paulo nos
escreve oferecendo mais um aspecto da fundamentação bíblica para o culto
cristão: Deus quer que sua comunidade se encontre com ele. Para possibilitar
tal desejo, um rito foi instaurado.
-
At 2.42-47: Esse texto descreve sucintamente a vida da igreja em Jerusalém,
onde se pode observar o destaque dado ao ajuntamento dos crentes e ao partir do
pão, indicando que a celebração da Ceia era um ato cúltico bastante
frequente: “Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de
casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singileza de coração
[...]” (v. 46).
As
condições iniciais da formação da Igreja, associada à falta do espaço litúrgico
cristão, fizeram que com as reuniões fossem celebradas nas casas (At 2.46b;
16.40; 20.20; Rm 16.5; I Co 16.19; Cl 4.15, etc.), nos pátios do templo judaico
(At 2.46b), às margens de rios (At 16.12-15) e em prisões (At 16.25).
DESENVOLVIMENTO
HISTÓRICO DO CULTO CRISTÃO
O
desenvolvimento histórico do culto cristão é descrito por Gonzalez (1980, vol.
1, p. 151 a 154),
que nos informa do fato de que é através de uma série de documentos antigos
preservados até hoje, que temos a possibilidade de saber como os antigos
cristãos celebravam a comunhão. Algumas características comuns formaram parte
de todas as reuniões de comunhão.
A
comunhão era uma celebração. O gozo e a gratidão era uma característica
presentes nos cultos. A comunhão era celebrada em meio de uma refeição, onde
cada um trazia o que podia. Após compartilharem os alimentos, oravam pelo pão e
pelo vinho. No princípio do século segundo, possivelmente em razão das
perseguições e das calúnias que circulavam acerca das “festas de amor” dos
cristãos, a comunhão passou a ser celebrada sem a refeição em
comum. Tal fato não fez cessar o espírito de celebração
das primeiras reuniões.
É
ainda por esse tempo, que o culto de comunhão constava de duas partes. Na
primeira liam-se e comentavam-se as Escrituras (culto homilético), faziam-se
orações e cantavam-se hinos. A segunda parte do culto começava geralmente com o
ósculo (beijo de cumprimento) santos da paz. O pão e o vinho eram trazidos para
frente e eram apresentados a quem presidia. Em seguida, era pronunciada pelo
presidente uma oração sobre o pão e o vinho, na qual se recordavam os atos
salvíficos de Deus e se invocava a ação do Espírito Santo sobre o pão o vinho.
Depois se partia o pão, os presentes comungavam, e se despediam com a benção. A
esses elementos comuns, em diversos lugares e circunstância, acrescentavam-se
outros.
Nesta
época, só podia participar do culto quem tivesse sido batizado. Os que vinham
de outras congregações podiam participar livremente, sempre e quando estivessem
batizados. Aos convertidos que ainda não tinha recebido o batismo, era
concedido assistir à primeira parte do culto, que consistia das pregações e orações.
Após esse momento, se retiravam antes da celebração da comunhão propriamente
dita.
Desde
muito cedo surgiu também o costume de celebrar a comunhão nos lugares onde
estavam sepultados os fiéis já falecidos. Esta era a função das catacumbas. As
catacumbas eram cemitérios e sua existência era conhecida pelas autoridades,
pois não eram apenas os cristãos que tinham tais cemitérios subterrâneos. Mesmo
que em algumas ocasiões os cristãos tinham utilizados algumas das catacumbas
para se esconder dos perseguidores, a principal razão pela qual se reuniam
nelas era que ali estavam enterrados os heróis da fé. Acreditava-se que a
comunhão unia, não apenas os crentes vivos e mortos entre si, mas também ao
Senhor Jesus Cristo, e aos seus antepassados na fé. No caso dos mártires,
existia o costume de se reunir junto a suas tumbas no aniversário de sua morte
para celebrar a comunhão. Esta seria a origem da celebração das festas dos
santos, que em geral se referiam, não aos seus natalícios, mas sim às datas de
seus martírios.
A
Igreja, como já observamos, se reunia principalmente nas casas. Com o
crescimento das congregações, algumas casas foram dedicadas exclusivamente ao
culto cristão. Assim, por exemplo, um dos mais antigos templos cristãos que se
conserva, o de Dura-Europo, construído antes do ano 256, parece ter sido uma
casa particular convertida em igreja.
A
história da igreja teve como um dos seus grandes marcos a conversão de
Constantino. No que se refere ao seu impacto sobre o culto cristão,
continuaremos a citar Gonzalez (idem, vol. 2, p. 37
a 39), que nos informa que até a época de
Constantino o culto cristão tinha sido relativamente simples. No princípio os
cristãos se reuniam para adorar em casas particulares. Depois começaram a se
reunir em cemitérios, como as catacumbas romanas. No século terceiro já havia
lugares dedicados especificamente para o culto.
Após
a conversão de Constantino o culto cristão começou a sentir a influência do
protocolo imperial. Foi introduzido o incenso, utilizado até então no culto ao
imperador. Os ministros que oficiavam no culto começaram a usar vestimentas
litúrgicas ricamente ornamentadas durante o mesmo, em sinal de respeito pelo
que estava tendo lugar.Surge também o costume de iniciar-se o culto com uma
procissão.
Em
razão das comemorações dos aniversários da morte dos mártires celebrando a ceia
no lugar onde ele estava enterrado, posteriormente foram construídas igrejas em
muitos desses lugares. Sem demora as pessoas passaram a pensar que o culto
teria significado especial se celebrado em uma dessas igrejas, por causa da
presença das relíquias do mártir, ou seja, de parte do seu corpo ou objeto que
lhe pertenceu. Os mártires começaram a ser desenterrados para colocar seu corpo
– ou parte dele – sob o altar de várias das muitas igrejas que estavam sendo
construídas. Simultaneamente, algumas pessoas começaram a afirmar que tinham
recebido revelações de mártires, além de lhes atribuir poderes miraculosos. A
veneração e a adoração aos santos nascem destas práticas.
As
igrejas construídas no tempo de Constantino e dos seus sucessores, nada tinham
em comum com a simplicidade dos primeiros espaços litúrgico. Constantino mandou
construir em Constantinopla a igreja de Santa Irene, em honra à paz. Helena,
sua mãe construiu na Terra Santa a igreja da Natividade e a do Monte das
Oliveiras. Muitas outras foram construídas nas principais cidades do Império.
Essa política foi seqüenciada pelos sucessores de Constantino. Seguindo a
prática dos imperadores romanos, quase todos eles tentaram perpetuar sua
memória construindo grandes obras, no caso aqui, igrejas suntuosas.
Praticamente todas as igrejas construídas por Constantino e seus sucessores
mais imediatos desapareceram. Documentos por escrito e restos arqueológicos nos
restaram para formarmos uma idéia da planta comum destes templos. E como padrão
estabelecido no século IV perdurou por muito tempo, outras igrejas posteriores,
que existem até os dias de hoje, ilustram o estilo arquitetônico da época.
A
forma típica das igrejas de então, porém, é chamada “basílica”, e já era
usado para designar os grandes edifícios públicos e privados – que
consistiam principalmente de um grande salão com duas ou mais filas de colunas.
Uma vez que tais edifícios serviram de referência e modelo para a construção
das igrejas nos séculos quarto e seguintes, estas receberam o nome de
“basílicas”.
CORRESPONDENTES
DO CULTO CRISTÃO NA TRADIÇÃO CATÓLICA
Conforme
já observado, as mudanças acontecidas nos primeiros séculos da história da
igreja influenciaram não somente a estrutura dos templos, como também a
liturgia do culto. É exatamente neste período que se desenvolve a missa com
todo o seu ritual e elementos litúrgicos, que enfatizaram a estética e a pompa
dos cultos, não sendo suficientemente capazes de manterem a verdadeira
espiritualidade da adoração à Deus.
Segundo
Champlin (1991, vol. 4, p. 303), o termo missa vem do latim. Comumente
aplicado à eucaristia [termo derivado do grego eucharistia, “agradecimento”,
passou posteriormente a significar a cerimônia da ceia, por parte do
catolicismo ocidental. A origem do nome é incerta, mas os eruditos supões que
vem das palavras latinas, Ite, missa est, “Ide, estais despedidos”,
que o diácono pronuncia no fim da cerimônia [...].
O
fundamento teológico católico para a missa, resume-se nas palavras do Concílio
Vaticano II:
Por
ocasião da última Ceia, na noite em que foi traído, nosso Salvador instituiu o
sacrifício eucarístico de seu corpo e de seu sangue. Ele fez isso para
perpetuar o sacrifício da cruz através dos séculos, até que ele volte, tendo
confiado à sua amada Esposa, a Igreja, um memorial de sua morte e ressurreição,
um sacramento de amor, um sinal de unidade, um vínculo de amor, um banquete pascal
no qual Cristo é consumado, a mente é cheia de graça e nos é dada uma garantia
de glória futura (Concílio Vaticano II apud CHAMPLIN, idem).
O CULTO
CRISTÃO E A HERANÇA REFORMADA
A
Reformar Protestante pode ser caracterizada por uma mudança na doutrina, na
vida e no culto. Lutero proclamava a rejeição da missa romana, dentre outras
razões, pelo fato de contradizer a sã doutrina e enaltecer a mera formalidade
do culto, desassociando-o do seu verdadeiro propósito.
A
missa no papado deve ser considerada a maior e mais horrível abominação, porque
ela entra em conflito direto e violento com o artigo fundamental [de Cristo e
fé]. Contudo, acima e além de todas as outras, ela tem sido a suprema e mais
preciosa das idolatrias papais [...] Visto que tais abusos múltiplos e
indescritíveis tenham surgido em toda parte pela compra e venda de Missas,
seria prudente passar sem a Missa, mesmo que não fosse por outro motivo senão o
de cortar tais abusos (LUTERO, 1647, cap. XV.iii apud GOFREY, 1999, p. 156).
Assim
como Lutero, João Calvino censurou veementemente a prática da missa romana:
Quando
Deus levantou Lutero e outros, que ergueram uma tocha para nos iluminar a
entrada ao caminho da salvação, e que, por seu ministério, fundaram e ergueram
nossas igrejas, estavam em parte obsoletos aqueles cabeçalhos doutrinários nos
quais está a verdade da nossa religião, aqueles nos quais a salvação dos homens
está inclusa. Mantemos que o uso dos sacramentos estava de várias maneiras
viciado e poluído. E mantemos que o governo da Igreja estava convertido numa
espécie de tirania infame e insuportável (CALVINO, 1960, p. 167 apud GOFREY,
1999, p. 157).
A
partir da Reforma Protestante, com o advento do denominacionalismo, surgido em
razão de divergências doutrinárias, o culto cristão passou a ter dentro de cada
denominação evangélica, uma liturgia própria, influenciada por fatores
culturais e doutrinários. Apesar desta diversificação litúrgica, o culto
cristão geralmente contém os seguintes elementos; a oração, a música, a leitura
da Bíblia, o ofertório, a explanação da palavra e a bênção apostólica.
LITURGIA
DO CULTO CRISTÃO NAS IGREJAS PENTECOSTAIS
Nas
igrejas pentecostais o culto cristão, nas suas variadas formas, dependendo da
finalidade do mesmo (oração, doutrina, ação de graças, Santa Ceia, Ordenação de
Obreiros, etc), a principal característica é a livre manifestação dos dons
espirituais e das expressões espontâneas da comunidade.
Basicamente,
as reuniões acontecem da seguinte forma:
-
Abertura com uma oração realizada pelo dirigente do culto, ou por alguém por
ele delegado;
- Cântico
de hinos do hinário oficial (Harpa Cristã);
-
Cânticos de hinos por grupos, conjuntos musicais, corais e solistas;
- Leitura
Bíblica, feita com a congregação em pé, seguida de oração;
-
Recolhimento dos dízimos e das ofertas, geralmente acompanhado por um cântico;
-
Pregação ou ensino da Palavra, costumeiramente seguido de apelo;
-
Agradecimentos e avisos gerais;
- Oração
final;
- Bênção
apostólica;
Os
elementos acima nem sempre seguem a sequência descrita, podendo ter diversas
variações dependendo da denominação e da região onde o culto é celebrado. Não
há uniformidade rígida na liturgia pentecostal.
MODISMOS
LITÚRGICOS INTRODUZIDOS NO CULTO CRISTÃO PENTECOSTAL
A
negligência para com o ensino teológico promoveu alguns males nas igrejas
pentecostais, dentre as quais as Assembleias de Deus, onde a vulnerabilidade
para modismos doutrinários, teológicos e litúrgicos é notória. Observemos uma
breve lista que envolve algumas inovações (ou imitações do movimento
neopentecostal):
-
Cultos de “milagres” (inclusive nos círculos de oração) com nomes ou desafios
específicos (As fogueiras santas, As voltas em Jericó, A travessia do Mar
Vermelho, Os mergulhos no Rio Jordão,etc.);
-
Os cultos semanais da vitória, da conquista, do milagre, da restituição, etc.
(mera imitação do que acontece na Igreja Universal do Reino de Deus e em outras
semelhantes);
-
As determinações e decretos nas orações públicas (teologia e liturgia
triunfalista);
-
O modismo do "eu profetizo" e do “eu determino” dos pregadores e nas
pregações;
-
A vergonhosa barganha dos dízimos e ofertas, fundamentada na teologia de alguns
televangelistas que difundem a distorcida teologia da prosperidade e da vitória
financeira com as suas semeaduras descabidas, com o cínico propósito de manter
status e impérios pessoais em nome da pregação do Evangelho.
CONCLUSÃO
Apenas
uma fundamentação genuinamente bíblica, associada ao propósito de somente
glorificar a Deus, pode estabelecer, promover e restaurar o verdadeiro culto
critão, e no caso aqui, os praticados nas igrejas pentecostais, e de forma mais
específica, nas Assembleias de Deus no Brasil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Coloque sua opinião de maneira clara e objetiva