Marcadores: LIÇÕES BÍBLICAS
"Porque a um é dada, mediante o Espírito, a
palavra da sabedoria; e a outro, segundo o mesmo
Espírito, a palavra do conhecimento; a outro, no mesmo
Espírito, a fé; e a outro, no mesmo Espírito, dons de
curar; a outro, operações de milagres; a outro, profecia;
a outro, discernimento de espíritos; a um, variedade de
línguas; e a outro, capacidade para interpretá-las."
(1 Co 12.8-10, ARA)
Os dons espirituais listados em 1 Co 12.8-10 são
geralmente classificados na literatura pentecostal da
seguinte forma:
- Dons de revelação ou saber - a palavra de sabedoria
(gr. logos sophias), a palavra do conhecimento ou
ciência (gr. logos gnoseos), discernimento de
espíritos (gr. diakriseis pneumaton);
- Dons de poder - fé, (gr. pistis), dons de curar (gr. charismata iamaton), operações de milagres ou
maravilhas (gr. evergemata dunameon);
- Dons de inspiração, mensagem, expressão ou elocução - profecia (gr. propheteia), variedade de
línguas (gr. gene glosson), interpretação das línguas (gr. hermeneia glosson).
A presente lição trata do primeiro grupo de dons (Dons de revelação ou saber).
A palavra da sabedoria
A Bíblia de Estudo Pentecostal (1999, p. 1756) define este dom como uma mensagem vocal sábia,
enunciada mediante a operação sobrenatural do Espírito Santo. A revelação da Palavra de
Deus ou a sabedoria do Espírito Santo é aplicada a uma situação ou problema específico
(At 6.10; 15.13-22).
Conde (1985, p. 101), diz que certamente não se refere à sabedoria humana, natural, ao
conhecimento adquirido nas escolas, seminários ou por outros meios, mas à sabedoria do Céu,
revelada pelo Espírito Santo.
Gee (1985, p. 32-36), entendendo que esse dom se encontra registrado na lista de manifestações
do Espírito Santo, é parte peculiar do revestimento de poder do Alto, que desce sobre os crentes
somente ao receberem o Espírito Santo. A palavra da sabedoria atua na pregação, no governo da
igreja e em casos emergenciais.
Souza (1998, p. 143) e (Gilberto (2006, p.70) afirmam que é um dom extremamente necessário "no
governo da igreja, pastoreio, administração, liderança, direção de qualquer encargo na igreja
e nas suas instituições".
Segundo Horton (1999, 294), a capacidade humana e a sabedoria natural não estão aqui
envolvidas. É uma manifestação do Espírito concedida para "aquela" necessidade (Lc 21.13-15;
At 4.8-14, 19-21).
Souza (Ibid., p. 139), considera este dom como "a sabedoria de Deus, ou, mais
especificamente, um fragmento da sabedoria de Deus, que é dada por meios sobrenaturais".
Para Souza, há semelhanças deste dom com o de profecia.
Na abordagem de Silva (1996. p. 82) "por meio da palavra da sabedoria, Deus capacita a
mente humana para entender todos os fatos e circunstâncias, leis e princípios, tendências,
influências e possibilidades [...]. É, portanto uma operação desvinculada de qualquer técnica
ou método humano, que se manifesta conforme a circunstância ou para atender uma
necessidade premente (Lc 12.11, 12; 21.15; Tg 1.5)". Silva compreende ainda, e concordo com ele,
que este dom opera desde o Antigo Testamento (desta forma, não precisar ser batizado com o
Espírito Santo para recebê-lo), conforme segue:
- José. "Disse Faraó aos seus oficiais: Acharíamos, porventura, homem como este, em quem
há o Espírito de Deus? Depois, disse Faraó a José: Visto que Deus te fez saber tudo isto,
ninguém há tão ajuizado e sábio como tu." (Gn 41.38,39, ARA). Chown (2002, p. 41), inclui
também José entre os portadores deste dom: "De fato, o Espírito Santo pusera na mente
de José uma poderosa palavra de sabedoria [...].
- Moisés e Arão. "Vai, pois, agora, e eu serei com a tua boca e te ensinarei o que hás de falar. [...]
Tu, pois, lhe falarás e lhe porás na boca as palavras; eu serei com a tua boca e com a dele e vos
ensinarei o que deveis fazer." (Êx 4.12, 15, ARA)
- Bezalel e Aoliabe. "Eis que chamei pelo nome a Bezalel, filho de Uri, filho de Hur, da tribo de
Judá, e o enchi do Espírito de Deus, de habilidade (sabedoria), de inteligência e de
conhecimento, em todo artifício, Eis que lhe dei por companheiro Aoliabe, filho de Aisamaque,
da tribo de Dã; e dei habilidade (sabedoria) a todos os homens hábeis, para que me façam
tudo o que tenho ordenado:" (Êx 31.2, 3, 6 ARA, grifo nosso)
- Josué. "Josué, filho de Num, estava cheio do espírito de sabedoria, porquanto Moisés impôs
sobre ele as mãos; assim, os filhos de Israel lhe deram ouvidos e fizeram como o SENHOR
ordenara a Moisés." (Dt 34.9, ARA)
- Salomão. "Todo o Israel ouviu a sentença que o rei havia proferido; e todos tiveram profundo
respeito ao rei, porque viram que havia nele a sabedoria de Deus, para fazer justiça."
(1 Rs 3.28, ARA). Chown (Ibid., p. 38-39), discorda aqui de Silva, entendendo que a sabedoria
que Deus concedeu a Salomão foi "natural", e a relaciona com a que Tiago menciona
(Tg 1.5). Neste particular concordo com Chown e discordo de Silva.
- Daniel e seus companheiros. "Ora, a estes quatro jovens Deus deu o conhecimento e a
inteligência em toda cultura e sabedoria; mas a Daniel deu inteligência de todas as visões e
sonhos." (Dn 1.17)
Chown (Ibid., p. 39-40), cita ainda Noé como receptor deste dom (Gn 6.13) e afirma:
"Esta mensagem, acompanhada das instruções para construir a arca, forneceu à raça humana,
na pessoa de Noé, a última esperança de sobreviver e de, um dia, tornar-se herdeira das
promessas de Deus em toda a sua plenitude".
Para Bergstén (1999, p. 131), esse dom proporciona uma compreensão (Ef 3.4) da profundidade
da sabedoria de Deus, que orienta a sua aplicação no trabalho e em decisões no serviço do
Senhor. O dom da palavra de sabedoria é uma força na evangelização, visto que transmite
conhecimento da salvação (Lc 1.77) com palavras ensinadas pelo Espírito Santo (1 Co 2.13).
É uma força na defesa do Evangelho (Fp 1.16). Esse dom esteve presente em Jesus (Mt 22.21,22),
Estevão (At 6.10) e em vários outros servos de Deus. Bergstén está entre aqueles que defendem
a operação deste dom no Antigo Testamento, quando cita 1 Reis 3.16-28; Gn 41.26-37, 38, 39;
Dn 2.27-30, 46, 49).
A palavra do conhecimento ou ciência
A Bíblia de Estudo Pentecostal (Ibid.), afirma que "trata-se de uma mensagem vocal, inspirada pelo
Espírito Santo, revelando conhecimento a respeito de pessoas, de circunstâncias, ou de verdades
bíblicas. Frequentemente, este dom tem estreito relacionamento com o de profecia ( At 5.1-10;
1 Co 14.24, 25)". Gilberto (Ibid.) reafirma esta definição: "Ciência equivale, aqui, a conhecimento.
É um dom de manifestação de conhecimento sobrenatual pelo Espírito Santo; de fatos, de
causas, de ensinamentos, de ensinadores, etc."
Gee (Ibid. p. 39), adverte que não se deve ser dogmático ao abordar este dom, e justifica ta
l procedimento em razão da insuficiência de dados sobre o assunto nas Escrituras. Afirma que é
provável que as ideias divergentes acerca dess dom contenham partes de todoa a verdade acerca
do mesmo.
Horton (Ibid. p. 295), afirma que este dom relaciona-se estreitamente com o dom da palavra da
sabedoria (2 Co 2.14; 4.6; Ef 1.17-23). Gee (Ibid. p. 41), concorda afirmando: "A relação entre a
sabedoria e a ciência é tão íntima que muitos crentes acham difícil fazer uma distinção clara
entre os dons espirituais da palavra da sabedoria e a palavra da ciência". A palavra do
conhecimento, segundo Horton, tem a ver com o conhecimento de Deus, Cristo, do Evangelho e
da aplicação do Evangelho ao viver cristão (1 Co 2.12, 13). É um dom que promove a iluminação
sobrenatural do Evangelho, especialmente no ministério do ensino e da pregação.
Se relaciona com o profundo conhecimento das Escrituras.
Souza (Ibid. p. 145), entende que a palavra do conhecimento "envolve uma implicaçaõ sobrenatural
de fatos que, no momento, nenhum indivíduo, por outro modo, poderia aprender por meios
naturais. [...] é a revelação de uma série de ações e se baseia no perfeito conhecimento de
Deus e tem o sentido de fragmento do conhecimento divino." Assim como a palavra da sabedoria,
este dom tem fundamento na onisciência de Deus. Souza admite também a relação deste
dom com o ministério do ensino (Ibid., p. 146).
Silva (Ibid. p. 86), define este dom como "a revelação sobrenatural de algum fato que existe na
mente de Deus, mas que o homem, devido às suas limitações, não pode conhecer, a não ser pela
poderosa intervenção do Espírito Santo." Ele também associa a palavra do conhecimento com a
palavra da sabedoria (Êx 31.3; 1 Rs 7.14; Pv 1.7; 9.10; Dn 1.4; 1 Co 12.8, etc.), mas especifica a distinção
entre os dois dons (Ibid.), ao afirmar que a sabedoria é a ciência sabiamente aplicada, e que a
ciência (ou conhecimento) é um requisito para a sabedoria e para o ensino. Não se trata de um
conhecimento adquirido através de estudos e pesquisas dirigidas ou sistematizadas. É entendido
por ele, também, como "revelação" (At 20.23; Ef 1.16-17). Para Chown (Ibid., p. 25):
"A palavra do conhecimento consiste numa revelação que penetra a mente humana como um
relâmpago. Seu teor excede as limitações do conhecimento ou da imaginação do homem. [...]
Foi pela palavra de conhecimento que Jesus soube que Natanael meditava sob a figueira, e que se
tratava de um homem sem dolo e sem malícia (Jo 1.47,48)".
O pastor Antonio Gilberto, comentando a lição bíblica do 2º Trimestre de 2009, afirma que em Eliseu e
Aías operava o dom da palavra da ciência, ambos personagens do Antigo Testamento, o que
reforça mais uma vez a ideia de que este dom operou antes do batismo com o Espírito Santo (At 2):
"Ele, porém, entrou e se pôs diante de seu senhor. Perguntou-lhe Eliseu: Donde vens, Geazi?
Respondeu ele: Teu servo não foi a parte alguma. Porém ele lhe disse: Porventura, não fui
contigo em espírito quando aquele homem voltou do seu carro, a encontrar-te? Era isto
ocasião para tomares prata e para tomares vestes, olivais e vinhas, ovelhas e bois, servos e
servas?" (2 Rs 5.25, 26, ARA)
"Respondeu um dos seus servos: Ninguém, ó rei, meu senhor; mas o profeta Eliseu, que está em
Israel, faz saber ao rei de Israel as palavras que falas na tua câmara de dormir." (2 Rs 6.12, ARA)
"A mulher de Jeroboão assim o fez; levantou-se, foi a Siló e entrou na casa de Aías; Aías já não
podia ver, porque os seus olhos já se tinham escurecido, por causa da sua velhice. Porém o
SENHOR disse a Aías: Eis que a mulher de Jeroboão vem consultar-te sobre seu filho, que está
doente. Assim e assim lhe falarás, porque, ao entrar, fingirá ser outra. Ouvindo Aías o ruído de
seus pés, quando ela entrava pela porta, disse: Entra, mulher de Jeroboão; por que finges
assim? Pois estou encarregado de te dizer duras novas." (1 Rs 14.4-6)
Chown (Ibid., p. 29-30), também reconhece a operação deste dom no Antigo Testamento. Cita como
exemplo de sua operação no Novo Testamento os textos de João 4.17,18,29; Atos 5.3-4; 9.11-12.
Para Conde (Ibid., p.103-104), a substituição da palavra da ciência pela ciência humana é a razão da
falta de progresso em muitas igrejas evangélicas. O desprezo e o combate contra o batismo com o
Espírito Santo, e a rejeição da manifestação dos dons espirituais estagnam o crescimento da igreja.
Embora haja valor nos dons naturais, no conhecimento adquirido através dos estudos, tal
conhecimento só terá valor e atingirá o seu alvo, quando colocado no devido lugar. A igreja
necessita mais dos dons do Espírito do que dons naturais, diz Conde.
Os Discernimentos de espíritos
"Trata-se de uma dotação especial dada pelo Espírito, para o portador do dom de discernir e
julgar corretamente as profecias e distinguir se uma mensagem provém do Espírito Santo ou não
[...]. No fim dos tempos, quando os falsos mestres (ver Mt 24.5 nota) e a distorção do cristianismo
bíblico aumentarão muito (ver 1 Tm 4.1 nota), esse dom espiritual será extremamente importante
para a igreja." (Bíblia de Estudo Pentecostal, ibid., p. 1757)
Embora a versão de Almeida Revista e Corrigida traduza por "discernir", no texto grego o termo
está no plural (diakriseis, discernimentos).
Horton (Ibid., p. 300), também o entende como diretametne relacionado ao julgamento de profecias
(1 Co 14.9). Discernimento, significa formar um juízo, e envolve uma percepção que é outorgada de
modo sobrenatural, para diferenciar entre os espíritos, bons e maus, genuínos ou falsos, a fim de
chegarmos a uma conclusão (1 Jo 4.1). Assim como os demais dons, é apropriado para
circunstâncias e situações específicas (At 5.3; 8.20-23; 13.10; 16.16-18).
Para Gilberto (Ibid.), é um dom de conhecimento e de revelação sobrenaturais do Espírito Santo:
"é um dom de proteção divina para não sermos enganados e prejudicados por Satanás e seus
demônios, e também pelos homens. [...] Líderes em geral - inclusive de música -, pastores,
evangelistas, mestres, precisam muito deste dom para não serem enganados."
Conforme Souza (Ibid., p. 151), este dom é uma habilitação sobrenatural que permite identificar a
natureza e o caráter dos espíritos, tendo em vista que existe o Espírito Santo, o espírito humano e os
espíritos demoníacos. Ele destaca ainda que não se trata de habilidade para descobrir as faltas
alheias, fazer leitura de pensamentos, de fenômeno espiritista (ou mediúnicos), nem se
relaciona com a psicologia. Para Gee (Ibid. p. 63), não deve ser confundido com a forma natural de
criticar, notar defeitos nos outros, nem com a habilidade penetrante de discenir a natureza humana.
Silva (Ibid., p. 88), concorda com Souza ao declarar que não se trata de técnica, perícia ou psicologia
humana, mas sim de uma atuação direta do Espírito Santo na mente do homem, habilitando-o
com uma espécie de "psicologia divina" que lhe capacita distinguir as manifestações vindas de
Deus das procedentes de espíritos demoníacos. Chown (Ibid., p. 46), confirma este pensamento e
nos diz que este dom não pode ser confundido com a perícia psicológica, com a capacidade de
analisar caráter, nem com a facilidade de descobrir falhas em nosso semelhantes. Silva adverte ainda
que há muitos indivíduos dotados de poderes espirituais e psíquicos que não pertencem ao Reino de
Deus. Mais uma vez Silva se reporta ao Antigo Testamento para identificar a manifestação deste
dom na vida de alguns personagens (Ibid., p. 89-90). Aliando-se ao pensamento de Gilberto, Silva
entende que na igreja, este dom deve ser desenvolvido especialmente na esfera ministerial (liderança).
Gee (Ibid. p. 65), declara o mesmo: "[...] mas o dom espiritual de discernir é de maior valor ainda
para o crente nos domínios espirituais, especialmente para os crentes responsáveis pelo
governo das igrejas."
Conde (Ibid. p. 111), declara que: "O crente que possui esse dom, conhece, por meio de um simples
olhar, os espíritos enganadores, os enedemoninhados, os falsos, os fingidos; sabe distinguir entre
o falso e o verdadeiro, entre o ouro puro e o simples metal". Para ele, assim como no caso dos
demais dons aqui listados, é preciso o batismo com o Espírito Santo para a sua manifestação,
posição não unânime no meio pentecostal clássico.
Chown (Ibid., p. 45), entende que por este dom, o Espírito revela a fonte de qualquer demonstração de
poder e de sabedoria sobrenaturais (Mt 24.5, 11; 2 Ts 2.8-10; 1 Tm 4.1; Ap 16.14). Este dom coopera
também no discernimento da causa ou origem de doenças físicas ou mentais (Mt 4.24; 12.22;
Mc 5. 1-9; 9.25; At 10.38).
Conclusão
A similaridade na abordagem pentecostal teórica e prática sobre os dons de revelação ou saber, faz
com que em boa parte dos casos ou situações pairem dúvidas sobre qual deles está se
manifestando e operando.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Coloque sua opinião de maneira clara e objetiva